*-*
Polisipo em grego, significa pausa na dor. Tem sido esses dias: Polisipo. Que os teus também. Muito amor.
posted under
Caio Fernando Abreu
|
1 Comments
♥
"O amor verdadeiro tem destas coisas: não se explica, não se controla, não se racionaliza, simplesmente toma conta. É uma droga, um vício, uma viagem entre o céu e o inferno, ida e volta,
sem parar."
♥
♥
♥
sem parar."
♥
♥
♥
posted under
Martha Medeiros
|
1 Comments
Meu coração é teu
Na terra do coração passei o dia pensando - coração meu, meu coração. Pensei e pensei tanto que deixou de significar uma forma, um órgão, uma coisa. Ficou só com-cor, ação - repetido, invertido - ação, cor - sem sentido - couro, ação e não. Quis vê-lo, escapava. Batia e rebatia, escondido no peito. Então fechei os olhos, viajei. E como quem gira um caleidoscópio, vi:
Meu coração é um sapo rajado, viscoso e cansado, à espera do beijo prometido capaz de transformá-lo em príncipe.
Meu coração é um álbum de retratos tão antigos que suas faces mal se adivinham. Roídas de traça, amareladas de tempo, faces desfeitas, imóveis, cristalizadas em poses rígidas para o fotógrafo invisível. Este apertava os olhos quando sorria. Aquela tinha um jeito peculiar de inclinar a cabeça. Eu viro as folhas, o pó resta nos dedos, o vento sopra.
Meu coração é um mendigo mais faminto da rua mais miserável. Meu coração é um ideograma desenhado a tinta lavável em papel de seda onde caiu uma gota d’água. Olhado assim, de cima, pode ser Wu Wang, a Inocência. Mas tão manchado que talvez seja Ming I, o Obscurecimento da Luz. Ou qualquer um, ou qualquer outro: indecifrável.
Meu coração não tem forma, apenas som. Um noturno de Chopin (será o número 5?) em que Jim Morrison colocou uma letra falando em morte, desejo e desamparo, gravado por uma banda punk. Couro negro, prego e piano.
Meu coração é um traço seco. Vertical, pós-moderno, coloridíssimo de neon, gravado em fundo preto. Puro artifício, definitivo.
Meu coração é um entardecer de verão, numa cidadezinha à beira-mar. A brisa sopra, saiu a primeira estrela. Há moças na janela, rapazes pela praça, tules violetas sobre os montes onde o sol se p6os. A lua cheia brotou do mar. Os apaixonados suspiram. E se apaixonam ainda mais.
Meu coração é um anjo de pedra de asa quebrada.
Meu coração é um bar de uma única mesa, debruçado sobre a qual um único bêbado bebe um único copo de bourbon, contemplado por um único garçom. Ao fundo, Tom Waits geme um único verso arranhado. Rouco, louco.Meu coração é um sorvete colorido de todas as cores, é saboroso de todos os sabores. Quem dele provar, será feliz para sempre.
Meu coração é uma sala inglesa com paredes cobertas por papel de florzinhas miúdas. Lareira acesa, poltronas fundas, macias, quadros com gramados verdes e casas pacíficas cobertas de hera. Sobre a renda branca da toalha de mesa, o chá repousa em porcelana da China. No livro aberto ao lado, alguém sublinhou um verso de Sylvia Plath: "Im too pure for you or anyone". Não há ninguém nessa sala de janelas fechadas.
Meu coração é um filme noir projetado num cinema de quinta categoria. A platéia joga pipoca na tela e vaia a história cheia de clichês.
Meu coração é um deserto nuclear varrido por ventos radiativos.
Meu coração é um cálice de cristal puríssimo transbordante de licor de strega. Flambado, dourado. Pode-se ter visões, anunciações, pressentimentos, ver rostos e paisagens dançando nessa chama azul de ouro.
Meu coração é o laboratório de um cientista louco varrido, criando sem parar Frankensteins monstruosos que sempre acabam destruindo tudo.
Meu coração é uma planta carnívora morta de fome. Meu coração é uma velha carpideira portuguesa, coberta de preto, cantando um fado lento e cheia de gemidos - ai de mim! ai, ai de mim!
Meu coração é um poço de mel, no centro de um jardim encantado, alimentando beija-flores que, depois de prová-lo, transformam-se magicamente em cavalos brancos alados que voam para longe, em direção à estrela Veja. Levam junto quem me ama, me levam junto também.Faquir involuntário, cascata de champanha, púrpura rosa do Cairo, sapato de sola furada, verso de Mário Quintana, vitrina vazia, navalha afiada, figo maduro, papel crepom, cão uivando pra lua, ruína, simulacro, varinha de incenso.
Meu coração é um sapo rajado, viscoso e cansado, à espera do beijo prometido capaz de transformá-lo em príncipe.
Meu coração é um álbum de retratos tão antigos que suas faces mal se adivinham. Roídas de traça, amareladas de tempo, faces desfeitas, imóveis, cristalizadas em poses rígidas para o fotógrafo invisível. Este apertava os olhos quando sorria. Aquela tinha um jeito peculiar de inclinar a cabeça. Eu viro as folhas, o pó resta nos dedos, o vento sopra.
Meu coração é um mendigo mais faminto da rua mais miserável. Meu coração é um ideograma desenhado a tinta lavável em papel de seda onde caiu uma gota d’água. Olhado assim, de cima, pode ser Wu Wang, a Inocência. Mas tão manchado que talvez seja Ming I, o Obscurecimento da Luz. Ou qualquer um, ou qualquer outro: indecifrável.
Meu coração não tem forma, apenas som. Um noturno de Chopin (será o número 5?) em que Jim Morrison colocou uma letra falando em morte, desejo e desamparo, gravado por uma banda punk. Couro negro, prego e piano.
Meu coração é um traço seco. Vertical, pós-moderno, coloridíssimo de neon, gravado em fundo preto. Puro artifício, definitivo.
Meu coração é um entardecer de verão, numa cidadezinha à beira-mar. A brisa sopra, saiu a primeira estrela. Há moças na janela, rapazes pela praça, tules violetas sobre os montes onde o sol se p6os. A lua cheia brotou do mar. Os apaixonados suspiram. E se apaixonam ainda mais.
Meu coração é um anjo de pedra de asa quebrada.
Meu coração é um bar de uma única mesa, debruçado sobre a qual um único bêbado bebe um único copo de bourbon, contemplado por um único garçom. Ao fundo, Tom Waits geme um único verso arranhado. Rouco, louco.Meu coração é um sorvete colorido de todas as cores, é saboroso de todos os sabores. Quem dele provar, será feliz para sempre.
Meu coração é uma sala inglesa com paredes cobertas por papel de florzinhas miúdas. Lareira acesa, poltronas fundas, macias, quadros com gramados verdes e casas pacíficas cobertas de hera. Sobre a renda branca da toalha de mesa, o chá repousa em porcelana da China. No livro aberto ao lado, alguém sublinhou um verso de Sylvia Plath: "Im too pure for you or anyone". Não há ninguém nessa sala de janelas fechadas.
Meu coração é um filme noir projetado num cinema de quinta categoria. A platéia joga pipoca na tela e vaia a história cheia de clichês.
Meu coração é um deserto nuclear varrido por ventos radiativos.
Meu coração é um cálice de cristal puríssimo transbordante de licor de strega. Flambado, dourado. Pode-se ter visões, anunciações, pressentimentos, ver rostos e paisagens dançando nessa chama azul de ouro.
Meu coração é o laboratório de um cientista louco varrido, criando sem parar Frankensteins monstruosos que sempre acabam destruindo tudo.
Meu coração é uma planta carnívora morta de fome. Meu coração é uma velha carpideira portuguesa, coberta de preto, cantando um fado lento e cheia de gemidos - ai de mim! ai, ai de mim!
Meu coração é um poço de mel, no centro de um jardim encantado, alimentando beija-flores que, depois de prová-lo, transformam-se magicamente em cavalos brancos alados que voam para longe, em direção à estrela Veja. Levam junto quem me ama, me levam junto também.Faquir involuntário, cascata de champanha, púrpura rosa do Cairo, sapato de sola furada, verso de Mário Quintana, vitrina vazia, navalha afiada, figo maduro, papel crepom, cão uivando pra lua, ruína, simulacro, varinha de incenso.
Acesa, aceso - vasto, vivo: meu coração é teu.
posted under
Caio Fernando Abreu
|
0 Comments
Eu não quero fingir...
"Eu já não tenho mais idade para fazer de conta. Eu não quero fingir.
Eu não posso fingir que isso aqui é um castelo,
que nós somos mágicos e encantados."
Eu não posso fingir que isso aqui é um castelo,
que nós somos mágicos e encantados."
posted under
Caio Fernando Abreu
|
1 Comments
Assinar:
Postagens (Atom)
- [YSF]
- =)~
- Ana Jácomo
- Arnaldo Jabor
- Artur da Távola
- Caio Fernando Abreu
- Carlos Drumond de Andrade
- Cássia Eller
- Cecília Meireles
- Clarice Lispector
- Clarissa Corrêa
- Érico Veríssimo
- Especial
- Fabrício Carpinejar
- Fernanda Gaona
- Fernanda Mello
- Fernanda Young
- José Saramago
- Luís Fernando Veríssimo
- Machado de Assis
- Marilyn Monroe
- Mário Quintana
- Marla de Queiroz
- Martha Medeiros
- Músicas
- Outros
- Paulo Coelho
- Pe. Fábio de Melo
- Rita Apoena
- Tati Bernardi
- YOo° =}
BorboletandO°
Meu som ...
O que já foi...
-
►
2012
(1)
- ► 06/03 - 06/10 (1)
-
►
2011
(51)
- ► 07/10 - 07/17 (1)
- ► 07/03 - 07/10 (4)
- ► 06/26 - 07/03 (2)
- ► 05/29 - 06/05 (5)
- ► 05/22 - 05/29 (1)
- ► 05/15 - 05/22 (3)
- ► 04/10 - 04/17 (1)
- ► 04/03 - 04/10 (1)
- ► 03/20 - 03/27 (8)
- ► 03/13 - 03/20 (4)
- ► 03/06 - 03/13 (6)
- ► 02/27 - 03/06 (2)
- ► 02/20 - 02/27 (3)
- ► 01/30 - 02/06 (4)
- ► 01/16 - 01/23 (2)
- ► 01/09 - 01/16 (4)
-
▼
2010
(233)
- ► 12/26 - 01/02 (2)
- ► 11/28 - 12/05 (2)
- ► 11/21 - 11/28 (3)
- ► 11/07 - 11/14 (2)
- ► 10/31 - 11/07 (2)
- ► 10/24 - 10/31 (2)
- ► 10/17 - 10/24 (2)
- ► 10/10 - 10/17 (2)
- ► 10/03 - 10/10 (8)
- ► 09/26 - 10/03 (1)
- ► 09/19 - 09/26 (6)
- ► 09/12 - 09/19 (8)
- ► 09/05 - 09/12 (8)
- ► 08/29 - 09/05 (7)
- ► 08/22 - 08/29 (9)
- ► 08/15 - 08/22 (11)
- ► 08/08 - 08/15 (14)
- ► 07/25 - 08/01 (9)
- ► 07/18 - 07/25 (21)
- ► 07/11 - 07/18 (1)
- ► 07/04 - 07/11 (7)
- ► 06/27 - 07/04 (11)
- ► 06/20 - 06/27 (3)
- ► 06/13 - 06/20 (15)
- ► 06/06 - 06/13 (9)
- ► 05/30 - 06/06 (8)
- ► 05/23 - 05/30 (8)
- ► 05/16 - 05/23 (10)
- ► 05/09 - 05/16 (5)
- ► 05/02 - 05/09 (4)
- ► 04/25 - 05/02 (1)
- ► 04/11 - 04/18 (5)
- ► 04/04 - 04/11 (13)
- ► 03/28 - 04/04 (3)
- ► 03/21 - 03/28 (4)
- ► 03/14 - 03/21 (1)
Minhas BorboletasƸ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ
Que dia é hoje?
Horas ○◦ઇઉ◦○
Eu...
Salmo 37○◦ઇઉ◦○
Ela○◦ઇઉ◦○
Aprender a olhar○◦ઇઉ◦○
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.
Cecília Meireles
♥'
Ela é mais
Meu dever...
"Eu tenho uma espécie de dever, de dever de sonhar sempre,pois sendo mais do que uma espectadora de mim mesma.
Eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.
E assim me construo a ouro e sedas,em salas supostas, invento palco,cenário para viver meu sonho entre luzes brandas e músicas invisíveis"
[Fernando Pessoa]
Recent Comments